16 setembro 2005

Corrida maluca

À mim não falta comida, não falta teto, há quem me quer bem. O que poderia entristecer alguém possuidor de tais privilégios? Bom, acho que esses privilégios são somente o requisito mínimo para que um ser humano não acabe com a própria vida. Para quem já os possui o mundo se mostra como uma corrida, onde não se é claro o regulamento, e nem mesmo é explicado onde é a chegada. Que direção escolher? A que velocidade correr? Mas como se não fosse difícil o suficiente nos é colocado inúmeros obstáculos. Há dias em que corremos com medo, duvidosos da direção em que seguimos. Há dias em que nem corremos, tomados pela depressão. E a sensacão de correr na direção errada, indecisão.
Alguém tem um mapa?

20 Comments:

Anonymous Anônimo

Ora aí está um problema, que se tem figurado como um dos mais cabeludos desde que nos pensámos como diferentes ( superiores? )ao Outro.

Um mapa!Um mapa consolador!Consolador porque protector das nossos medos, da nossa indecisão, da nossa ancestral angústia em não sabermos PARA ONDE VAMOS.Diga-se que também não temos um mapa que nos diga DE ONDE VIEMOS, NEM COMO VIEMOS, NEM PARA QUE VIEMOS.

E seria bom um mapa,Darwin? É verdade que teríamos tudo determinadinho.Estaríamos sempre no caminho certo, com as metas à vista...!

Mas...! Mas então não passaríamos de seres programados,para percorrer caminhos e alcançar as metas desejadas,tal como acontece com os touros que são criados para dar gozo às multidões e depois abatidos.Como as galinhas criadas para engorda com vista à satisfação dos nossos apetites. São seres sem qualquer resquício de Liberdade.

Liberdade! A coisa que mais diferencia o ser humano dos outros.

Não queiras um mapa,Darwin! Não queiras ser apenas um número para abate. Não te deixes reduzir assim!É difícil. Eu sei! Mas se assim não fosse que gozo obterias tu de toda uma vida? És tu o teu mapa.Um mapa construído dia a dia, com todo o teu Ser.Com todos os teus receios,os teus assomos de coragem,a tua tibieza,o teu humor,as tuas brincadeiras,os teus arrepios de pele, os arfares do teu peito,os estremecimentos do teu coração,os teus espantos,os teus " flashes " de inteligência e as tuas estupidezes também.Não há mapa, Darwin! E não há mapa porque se o houvesse, ao homem não poderia ser atribuída a categoria de ser humano. Ficar-se-ia por um simples hominídeo que parou na cadeia da evolução!

É que a melhor definição para o Ser Humano encontra-se na palavra mais bonita de todas. LIBERDADE!

Mas não a queiramos submeter às restrições próprias da realidade física.Não dá! São campos diferentes. A liberdade de que falo está para além de quaisquer limitações.Como tal não se dá com o palpável, com o finito!

É isso o Ser Humano! Não sabe quem é!Não sabe de onde vem! Não sabe para onde vai, como vai, nem porque vai! Se soubesse,não seria homem. Seria Deus!

É!É o homem apenas uma possibilidade de Ser.E é essa possibilidade que nos transporta para a formidável aventura que é a vida.A vida de que exigimos mais.De que exigimos uma certeza, que sabemos,nunca teremos.É a aventura humana.O homem que quer ser mais e mais.....! E é a esta insatisfação permanente,esta ansiedade nunca aplacada,este torvelinho de desejos e ambições,esta cega-rega de avanços e recuos,de emoções e sensações, de orações e maldições, de depressões e horas felizes,esta corrida com barreiras mas sem fim à vista, que denominamos de vida.Que é reverso da morte.Última fronteira para a liberdade plena!

17/9/05 2:02 PM  
Blogger Darwin

Pois é, por mais que houvesse um mapa legítimo (hoje existem vários, os mais diversos, o que não falta é gente VENDENDO mapa), esse somente daria a nós, seres livres, a possibilidade de não segui-lo, de questiona-lo, e ir na direção "errada".
A partir de um momento na nossa vida, depois de pensar um bocado nela, fica quase claro que: Se queremos um dia cruzar uma escolhida linha de chegada, teremos de obedecer um regulamento criado por nós mesmos; ou será que um católico precisa aprender na igreja quais são os pecados que o desclassificarão na corrida em direção ao céu?
Eu desconfio às vezes de que não há diversas linhas de chegada, muito menos um regulamento, desconfio que nós apenas carregamos uma porção de combustível, e corremos até que ele acabe.

17/9/05 4:42 PM  
Anonymous Anônimo

Tal qual,Darwin!Carregamos uma porção de combustível,e corremos até que ele acabe!

E o quê ou quem determina a quantidade de combustível atribuída ?

E valerá a pena correr ou será mais sensato caminhar ou, até mesmo, ficar parado a ver os outros correr, a gastar o combustível próprio?

Cabe a decisão a cada um de nós! Na certeza de que não haverá possibilidade alguma de voltar atrás.

Trata-se da ousadia de escolher.Com todas as consequências.Escolher Ser.Livre.Homem!

17/9/05 5:11 PM  
Blogger Darwin

O "combustível" de que falei não acaba conforme corremos ou caminhamos, eu me referi ao tempo de vida, tempo esse que um dia acabará, mesmo que não queiramos.

17/9/05 7:00 PM  
Anonymous Anônimo

Quer corras quer andes, acabar-se-te-à o " combustível " ,mesmo que não queiras!E a vida não deixa de te acompanhar nessa " corrida maluca ". Restará saber se vivemos mais a correr,desdenhando a paisagem,ou se pelo contrário,não será melhor caminhar admirando-a, e tornando-a cúmplice da nossa jornada.

A escolha pertence-nos!E tal responsabilidade não podemos declinar, sob pena de negarmos a nossa marca, a Liberdade!

18/9/05 7:54 AM  
Blogger Darwin

Liberdade. Qual é o conceito de liberdade?

18/9/05 8:46 AM  
Anonymous Anônimo

Fácil a pergunta,difícil a resposta!

De difícil teorização concebo a liberdade, no entanto,como uma das prerrogativas essenciais à condição humana.Até à descoberta da nossa diferença para com as outros,ao nosso encontro connosco mesmos,desde,aproximadamente, há 100 mil anos,vivíamos misturados na massa informe da natureza.Não havia qualquer distinção entre nós e,por exemplo,o chão da caverna onde,protegidos do frio, da chuva e das feras, dormíamos.E não havia distinção porque não pensávamos como entidade individual, diferente de tudo o resto.Fazíamos todos parte de tudo, tal como hoje, só que com a diferença de que não o PENSÁVAMOS ainda!Éramos simples seixos atirados para ali ao deus-dará.

Assim foi até que,durante uma tempestade, sei lá, um raio qualquer destrói um enorme carvalho,e um medo larvar começa a construir a sua casinha no nosso cérebro! - E se o raio tivesse caído em cima de mim....!!?

Apodera-se então o terror do homem.Sente qualquer coisa a bulir, a doer..ali..e mecânicamente, leva as mãos atrás da cabeça.Fecha os punhos e bate nela a ver se sente algo mais...! Estranho...!Um novo mundo se abre àquela existência até aí,não separada da natureza.E começa a...que estranho!?!!?#$%$&%/..a perguntar-se...?!?"$$% - Mas porque aconteceu aquilo? E se fosse a MIM. A MIM?

Eis o grande salto!De um simples seixo que era, começa aquele ser a pensar-se! Começa a imaginar porque teria acontecido tal. E porque não lhe aconteceu a ele?
E vai daí há que fazer algo para se proteger daquilo, do MAL.Começa a fantasiar teorias,desenvolve complexas redes de dependências que o possam manter PROTEGIDO da força da natureza.Como ser diferente que já se considera, inventa seres superiores que, porque zangados ou satisfeitos consigo,castigá-lo-ão ou beneficiá-lo-ão.Tudo depende do seu bom comportamento para com eles,os deuses.

Inventadas estão pois as religiões! Criada foi a necessidade de satisfação de outrem para que se possa disfrutar da vida.Se antes do eclodir do raio o homem não era livre porque nem sequer se distinguia do outro, agora é ele ciente da sua diferença a entregar-se nas mãos de forças imaginárias com medo de assumir conscientemente a sua recente liberdade!Pois que a entregou a outrem!Por medo.Por necessidade!

Escolheu a religião!Escolheu um amo a quem,doravante,prodigalizará o melhor dos seus esforços.E ficou escravo de esquemas, de símbolos, de rituais.Da vida!

Mas,uma vez livre, o homem teve de escolher. Logo nunca foi livre.Argumenta-se.Porque só é livre todo aquele que não tem necessidade de escolha.

Mas quem não tem necessidade de escolha, o que é? Para além de massa incaracterística impossível de identificar?

Só podemos falar de liberdade e de necessidade enquadrados no mundo físico em que vivemos.E cuja realidade palpável percebemos.Para além disto, nada é!Nem nós nem a natureza como pensámos!

A liberdade opõe-se à necessidade,mas esta é condição para que aquela se exerça!Ora se hipotecamos a nossa liberdade a favor a favor de qualquer necessidade,renegámos aquele momento supremo de descoberta de nós mesmos,transferindo para outros a responsabilidade exigida pela liberdade acabada de nascer.

A liberdade de nos sabermos não tão condicionados pela natureza como tudo o resto. A liberdade outorgada pela diferença que assumimos perante o outro!A liberdade caracterizada pela emancipação da razão,perante a bruteza das coisas sensíveis.

A liberdade de desprezarmos quaisquer mapas que nos pretendam impingir!A liberdade de sonhar com outras liberdades.A liberdade até de nos deixarmos prender com medo da própria Liberdade!

É fascinante o tema,Darwin!Muito mais há para dizer!

18/9/05 3:31 PM  
Blogger Darwin

Me alegraria bastante se você tivesse dito que "liberdade" seria simplesmente correr, sem preocupações, num campo vasto, terra macia, pés descalços, céu azul, muitas nuvens, ar úmido, o corpo leve, sem preocupações, fim de tarde...
Mas parece não ser tão simples assim, não é mesmo? A "liberdade" com a qual sonhamos hoje não é senão a rejeição do poder de "escolher", rejeição da própria liberdade.
Há momentos em que eu sinceramente trocaria meu poder de escolher por aquele campo... verde escuro, ar úmido, silêncio absoluto, pôr do sol, leve brisa...

18/9/05 9:27 PM  
Blogger Trunkael

Cheguei atrasado nessa discussão, mas creio que ainda posso aprofunda-la. Vejamos que primeiramente Darwin pede um mapa, e isso me lembra a interessantissima doutrina budista, que prega que cada um tem que seguir seu próprio caminho rumo à sua ascenção pessoal. Não há e nem deve haver um mapa com o caminho para essa ascenção, e é ai que as religiões pecam, pois elas te desenham um mapa para seguir em direção ao pseudo-paraiso.

E creio que é ai que chegamos na liberdade, a liberdade de escolher o caminho que te levará ao seu ideal, seja ele qual for. Eu normalmente digo que o ideal do ser humano (a humanidade, como um ser em si) é a evolução da consciência. Ora, qualquer coisa que se faça é com ideial de se lapidar. A liberdade está na escolha de cada ponto do caminho, da velocidade que você vai caminhar e até, enfim, a liberdade de não caminhar. Ninguém no mundo tem o poder de te dizer como e pra onde tem que seguir.

No entanto para ter essa liberdade de escolher caminho deveremos primeiramente buscar o conhecimento. Pois não adianta nada ter toda a liberdade do mundo se você não consegue ver mais que uma pequena e tortuosa trilha. A liberdade está profundamente ligada com o conhecimento e esse é o segundo problema da religião, além de lhe dar um mapa pronto lhe coloca viseiras para que você não veja a vastidão de outras opições que podem te levar mais rapidamente (ou com mais segurança, ou com mais aprendizados) que o mapa delimitador que ela te propõe.

19/9/05 2:20 PM  
Anonymous Anônimo

A abordagem do tema Liberdade implica desde logo a assunção de um certo enquadramento no qual vamos vivendo as nossas vidas.E as nossas vidas são finitas.São finitas como tudo o que os nossos sentidos percebem.Como esta terra que recebemos em herança.Como o nosso corpo que sofremos todos os dias.

Ora sendo nós finitos,como poderemos ser livres? Se estamos limitados pela própria finitude?Não!Assim nunca poderemos aspirar à Liberdade que paira nas asas do desejo.Do humano desejo.

Desejo que nasceu aquando da descoberta fabulosa de que conseguimos PENSARMO-NOS.De que conseguimos vislumbrar e sentir a " petite diference " relativamente a tudo o que nos rodeia.Relativamente à bruta e fera natureza.Foi aí que nos sentimos capazes de dar o salto, o grande salto da singularidade humana.Foi aí que nos apercebemos de futuro que nada ( nada?)tem a ver com os outros. Os outros seres.
E afirmámo-nos como únicos. Como únicos detentores do facho libertador.Libertador da necessidade, da contingência,da finitude que a todos os os outros afecta de uma forma inexorável.

E o que é que nos deu tão grande audácia? A audácia de nos pensarmos como DIFERENTES dos outros?

Foi A RAZÃO.A grande libertadora. A partir de então começamos a ousar CRIAR.Começamos a ousar ser deuses.E libertámo-nos dos grilhões da necessidade,da contingência própria de quem não pensa.Até da morte nos ousámos libertar.É a razão no seu auge.No seu máximo esplendor e glória.

Mas a vontade de domínio sobre os outros irrompeu da originalidade humana.Surgiram as religiões e aquela alastrou por toda a terra.
Usando sofisticamente a razão,os poderosos procuraram remeter as populações para um estádio semelhante ao de antes da fabulosa descoberta.Ao estádio de massa informe e incaracterística,subtraindo-nos assim a liberdade!

Portanto, temos que a Liberdade só o é com a razão.E só podemos falar em liberdade num quadro finito.Em que somos perecíveis,contingentes, sujeitos de necessidades e fortemente conscientes.

De outro modo,inconscientes, vegetaríamos,tal como, nos primórdios,sem quaisquer restrições e sem quaisquer problemas. Que problemas,pois, poderia haver para quem não dá conta de nada que se passa à sua volta?

É a liberdade uma criação humana.De que queremos usufruir ao máximo.Só que não podemos esquecer que é nossa filha.Filha do génio humano.Que vive num e com um corpo finito.Do qual nos queremos evadir.Porque nos achamos livres!

" Correr sem preocupações, num campo vasto, em terra macia,pés descalços,céu azul,nuvens,ar húmido..." é o desejo de toda a gente, mas não deixa de ser também, a negação do esforço que permitiu ao homem pensar por si e se encontrar como diferente de tudo o resto.

O homem na sua ingente batalha para se achar a si mesmo naquele momente fabuloso,ficou também a conhecer a DOR de ser humano. Até aí,nada havia que o estremecesse.Tanto se lhe dava como se lhe deu.Era tudo amorfo.Não havia consciência de nada.Era uma coisa.Uma coisa simplesmente!Não sabia o que era um " campo vasto,uma terra macia,uns pés descalços,um céu azul,uma nuvem,um ar húmido ".Que liberdade seria pois, aquela? SEm dela termos qualquer conhecimento?

Cabe a cada um de nós urdir o caminho e a forma da sua liberdade.Pois que esta não existe sem nós.Nem nós sem ela! E não esqueçamos que a DOR é sua amiga estimada.

Numa intervenção que aprecio, Protágoras de Ábdera mencionou o Budismo como "uma doutrina que prega que cada um tem que seguir o seu próprio caminho rumo à sua ascensão pessoal ".

Ora eu quero crer que não é bem assim, porquanto o Budismo, a ser assim, não passaria de uma variante do individualismo americano.O budismo não pensa o homem como indivíduo que sózinho deva trabalhar para a sua ascensão pesoal. E não pensa assim porque é no Outro que qualquer budista sincero quer ver a felicidade a sorrir em detrimento de si próprio se for caso disso. Porque é no Outro que a sua própria felicidade se realiza.Pela COMPAIXÂO.Pela CARIDADE.Que nada tem a ver com a compaixão e caridade que os cristãos nos têm deixado entender.O verdadeiro budismo concretiza-se em inteira disponibilidade para com o outro e só com o outro se realiza completamente.

Vou ficar por aqui se não começo a ficar "chato".

19/9/05 6:56 PM  
Blogger Darwin

Mesmo levando uma dolorosa vida finita, somos capazes de praticar a caridade. A praticá-la não estariamos nós sendo realmente livres?

20/9/05 12:00 AM  
Anonymous Anônimo

Ora aí é que bate um ponto.E um ponto deveras interessante.É que,numa visão alargada do budismo,penso que seremos cada vez mais livres quanto mais nos libertarmos de nós a favor dos outros.Pois que é no outro que a nossa liberdade reside.Libertarmo-nos da necessidade que nós como indivíduos temos de promover o nosso ego à custa do outro.Este comportamento torna-nos cada vez mais contingentes,cada vez mais necessitados.E como vimos a necessidade é o oposto da liberdade.E esta será tanto mais real quanto mais nos esquecermos de nós.

À medida que avançamos neste debatezinho, vamos encontrando uns escolhos,uns cruzamentos que precisam de ser torneados.E eis-nos perante um que não é facilmente ultrapassável.E que é este:

Na mira da conquista da liberdade e aceitando que a prática da CARIDADE é o caminho certo, que valor terá o nosso esforço em tal sentido? Sim! Que valor terá o nosso comportamento compassivo para com o outro,se ao fim e ao cabo estamos pura e simplesmente a ser INTERESSEIROS?

Procuro ser compassivo,caridoso para conseguir ser livre. O meu esforço tem um sentido fortememte mercantil.Não é genuíno!Não tem origem no coração.Tem a origem na razão!

E entroncamos aqui no famigerado problema da MORAL.Que a lógica tem de resolver,LIBERTANDO-NOS!

E como,Darwin? Aqui fica o desafio!
Outros contributos aguardam-se!

20/9/05 8:27 AM  
Blogger Trunkael

Meu pecado realmente foi simplificar demais. Busquei o budismo não no sentido de seu individualismo, mas sim para ilustrar que apenas nós mesmos devemos escolher nosso próprio caminho para uma ascenção espiritual.
E estás certo em dizer que temos que relacionar com as pessoas, pois elas são nossos mestres que ajudaram a construir nossa estrada.

Sobre a caridade, eu tenho certa resistência a achar que ela em si (essa coisa de ajudar o outro) seria alguma liberdade ou um meio de ascenção. Não subjulgo o poder da caridade, mas acredito que a própria idéia de que a liberdade provém de aceitar que ela é o caminho certo já é um impecilho à liberdade, pois é um mapa pronto.

E também desconfio bastante da caridade em si, creio que tudo que fazemos para os outros, inconscientemente ou não, é para um bem próprio. Exemplo simples e fácil é dos nossos colegas católicos, que podem vir a fazer todo o tipo de caridade, mas no fundo estão apenas comprando uma vaga no céu. Para eles a caridade é uma obrigação.
Mesmo que não tenha essa idéia absurda de pós-morte, os pequenos favores diários que fazemos aumentam nossa auto-estima, nos dá grande paz de espírito e ainda nos colocam em crédito com a pessoa ajudada.

Eu não acredito em um bem absoluto ou em uma caridade totalmente desinteressada, assim como não acredito que esse seja o caminho para a liberdade, que tem tantas formas quanto são os homens sobre a terra.

20/9/05 2:23 PM  
Anonymous Anônimo

Que me desculpe o amigo Protágoras,mas eu não disse que a liberdade era o caminho para alguma coisa.Não é o caminho.É sim a prerrogativa essencial que distingue o homem de qualquer outro ser ou coisa, que por definição são contingentes.Com a liberdade o homem deixou de estar amarrado à necessidade.Partiu o homem a casca do ovo em que vivia completamente alheado de tudo o que o rodeava.Então, não era nada o homem.Procurei deixar entender sim, que a liberdade,agora como companheira,pode, " a fortiori" conduzir-nos por veredas nunca antes sonhadas.E para quê? Não sei!Acaso alguém saberá?

No entanto, acredito que para além de todas as teorias, falácias e sofismas (em que Protágoras era exímio),não vai o homem a lado nenhum, se não refundar as suas esperanças numa solidariedade activa( interesseira ou não)onde a liberdade inerente a cada um de nós emerge como denominador comum e como evidência da nossa diferença relativamente ao Outro(Natureza).

Gostava de perceber a última frase (..a liberdade tem tantas formas quantos os homens sobre a terra)sic

De que forma mais se pode sentir a liberdade, se não senti-la, em comparação com os seres que não a sentem? Que sofrem a necessidade de estarem presos a um todo incaracterístico, de onde não se conseguem identificar como seres independentes?Ao contrário do homem que o conseguiu.Que conseguiu PENSAR-SE como diferente? Acho que a liberdade é só uma.O homem tem é muitas maneiras de a manifestar! E apesar de poder vir a ser acusado de homocentrista acho que só com o homem a liberdade se manifesta.Pois é sua a criação.

20/9/05 4:23 PM  
Blogger Darwin

Acho que um caminho para a libertação do ser humano é a pratica da caridade(mas sem interesse), pois não parece para nós impossível tal ação? Não será essa um salto por cima do abismo que nos cerca dentro das características humanas? Então uma vez do outro lado do abismo estaríamos livres, DAS CARACTERÍSTICAS HUMANAS.
Devem haver outras maneiras de se libertar das condições humanas, a morte não é uma maneira?
Podemos concluir que enquanto somos humanos, e agimos como um, não somos livres?
Que a "razão" esteja com vocês!

20/9/05 9:52 PM  
Anonymous Anônimo

E contigo também,Amen!

21/9/05 8:06 AM  
Blogger Trunkael

Bom, erro meu, a frase deveria ter sido essa:

"Não subjulgo o poder da caridade, mas acredito que a própria idéia de que a liberdade provém de aceitar que ela, a caridade, é o caminho certo já é [em si] um impecilho à liberdade, pois é um mapa pronto."

Ou seja, a caridade é o caminho, a liberdade, o objetivo.

Não creio nessa liberdade que você engaiola em um conceito. Não creio que a nossa visão de liberdade só é possivel com a comparação da não liberdade alheia ("De que forma mais se pode sentir a liberdade, se não senti-la, em comparação com os seres que não a sentem?"). Quem somos nós para refutar um religioso que acredita que a liberdade é amar a Deus?

Para mim, amar a Deus é em si uma prisão e não liberdade, no entanto cada um terá sua idéia de liberdade mesmo que daqui a um dia acorde e perceba o quão alienado é.
A liberdade não pode ser engaiolada, o sentido é amplo demais. Somos livres para amar a Deus ou para odiá-lo. Somos livres para, inclusive, nos escravizarmos ao consumismo ou ao amor. E eis que ai o Satre ganha a discussão pois realmente "estou condenado a ser livre!". Pois a própria escolha de se manter alienado é resultado de sua livre vontade.

21/9/05 2:49 PM  
Anonymous Anônimo

Eu aceito que me achem religioso.Mas só na medida em que entendo a religião como " re-ligação ", com tudo o que me rodeia.Pois que não concebo que qualquer ser humano,apesar de " livre ", não deixa de,inevitavelmente, fazer parte do todo de onde provém.

Não pode a liberdade ser engaiolada nem muito menos pode ela ser tão ampla que se perca no nada.

E de que outra maneira se pode falar em liberdade se não se puder ser comparada com a alheia?


Entendo que a liberdade é a própria existência, e como diz Sartre " ...um existente que, como consciência,está necessariamente separado de todos os outros,já que estes se encontram em relação com ele apenas na medida em que existem para ele,um existente que decide do seu passado, sob forma de tradição,à luz do seu futuro,em vez de deixá-lo pura e simplesmente determinar o seu presente,um existente que perspectiva algo distinto de si,isto é,um fim que não tem existência e que ele projecta no outro lado do mundo, eis aquilo a que chamamos um existente livre ". ( L'être et le néant,p.530)

Tal como eu penso!

Não se refere a liberdade tanto a vontades particulares mas sim ao " projecto fundamental em que se encontram, constituindo assim a possibilidade derradeira da humana realidade.A escolha originária.

Ainda Sartre " A liberdade permanece no limite dos factos,isto é, do mundo" ( que é a sua gaiola )As aspas são minhas.

Tal qual!

E mais diz Sartre ".. pode-se dizer que aquilo que torna mais concebível o projecto fundamental da realidade humana é o facto de que o homem é o ser que projecta Deus.Quaisquer que sejam os mitos e os rituais da religião considerada,Deus é em primeiro lugar " sensível ao coração" do homem como sendo aquilo que o anuncia e o define no seu projecto último e fundamental.(ibidem, p.653)

Em Sartre o homem é principalmente desejo de ser Deus.Porque o homem é um Deus falhado!

Estamos,de facto, condenados a ser livres,e por isso mesmo também a ser tudo ou nada!

21/9/05 5:35 PM  
Blogger Darwin

Será que podemos ao menos concluir que existe em nosso cérebro, ou sei lá aonde, a tal da "razão"?

21/9/05 11:00 PM  
Anonymous Anônimo

e ai cara blz? aki e seu irmao do outro lado do mundo por essa vc nao esperava em sabe nao vou comentar sobre seus pensamentos pois vou ser sincero nao consigo entender quase nada so passei por aki mesmo para te mandar um abraco e para diser que tenho muito orgulho de ser seu irmao blz falou!

5/10/05 10:54 AM  

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