20 dezembro 2005

Laços, correntes

No meu braço direito tem uma corrente, encrustada nos ossos, corrente fraca, já enferrujada, que me liga á pessoas que escolhi minuciosamente para serem pessoas que eu convidaria para sentirem a vida nos meus momentos de alegria, de trabalho suado, diversão. Corrente que nas outras extremidades não sei como é. Fraca, é como imagino que seja, no braço direito acho que não está. Mas não é tão ruim.
No meu coração amarraram um laço. Deram voltas e voltas, nós e mais nós. Me prenderam ao meu pai, minha mãe, meus irmãos. Mas amarraram tão forte que sufocou meu coração. Meus sentimentos perderam intensidade externa, eles se encontram compactos como uma estrela branca.
Quero fugir do mundo.
Mesmo nos mais feios dias não consigo fugir. Os laços, as correntes se apertam ainda mais, e quanto mais quero fugir, mais não consigo. No mais feio dia quis que me batessem e me xingassem e não ligassem pra mim. Queria poder fugir.
Estranho é que tenho um laço, que é o mais bonito de todos, nem sei se fui eu mesmo que fiz, ele é pesado, carrego com muito esforço, aparentemente muito resistente, capaz de agüentar tranco forte. Uma ponta está na minha alma. E engraçado é que procuro alma onde amarrar a outra ponta. Quero fugir do mundo, e quero me prender a ele.