04 dezembro 2005

Números X Pessoas

Sou dos que, logo que nasceu, tiveram de aprender a falar. Chorar não bastava. Exigiram de mim, que expressasse através de combinações de sons aquilo que me necessitava. Ah, mas não foi muito difícil não, quando criança nada é difícil.
E não é que queriam mais de mim! Muito pequeno ainda, lembro que me ensinavam números, alfabeto. As vinte e seis letras eu decorei rapidinho. Já os números; me assustei quando vi que não tinha fim. Começava a contar do zero (e me orgulhava disso, ninguém começava do zero), e lembro quando ainda só chegava no setenta(ia dizer 60, mas não sei escrever, então disse um valor maior, hoho).
Mas não bastava. E forçosamente me ensinaram escrever (mal, pelo que se pode ver, tsc). Das vinte e três letras, milhões de cobinações de umas com as outras traduziam imperfeitamente aqueles sons que tive de aprender muito cedo. Aliás, nem mesmo os sons traduzem aquilo que acho que quero expressar.
E muito cedo ainda queriam me preparar para esse mundo moderno. Me colocaram na frente aqueles dez algarismos, e disseram "esse mais esse dá esse, já, esse mais esse dá esse, mas com esse outro dá isso. E decore isso muleque, vai ser muito útil na sua vida"
Não bastou decorar as somas, depois me vieram com as tabuadas. Meu deus, quantas combinações, decorar tudo isso? vocês são loucos, loucos!
Mas quando criança nada é difícil. Inguli tudo. Tentei vomitar, mas me estrangularam a garganta, impedindo.
Mas o que não me ensinaram foi como interagir com as pessoas. Me deixaram falando com os números, com a lógica, com o padrão. Acabei até me apegando a eles, mas eles nenhum carinho tinham por mim.
Aí, um dia uma melodia me disse que existe o céu, que existe pessoa que dá carinho. Então larguei dos números e comecei a escrever isso aqui.