25 setembro 2006

Saudade

Aqueles sentimentos da época de criança, queria poder senti-los denovo.
O maior dos desejos era ter aqueles legos dos catálogos, castelos enormes, milhares de peças, coloridas, simétricas, perfeitas. Lembro que eu recortava os catálogos, numa tentativa de, de alguma forma, ter aqueles. Os brinquedos tinham um valor imensurável.
Um daqueles bem caros, dos que naquela idade já era consciente da impossibilidade de possuí-los, já que os pais realizavam o intermédio, um daqueles poderia ser facilmente a razão do meu viver, por um bom tempo. Acabariam quebrados, desmontados ou abandonados, mas proporcionariam momentos de muita alegria.
A tecnologia era magia. Aqueles aparelhos cheios de luzes e botões, pareciam ter sido feitos por deuses. As ferramentas, as máquinas. Adorava olhar os tratores trabalhando, parecia que transformavam as coisas em coisas melhores. Lembro da imagem de um carro de quatro portas numa revista, brilhando, passando soberano sobre a rua, aquilo parecia ser o retrato da super capacidade dos adultos. Os trens, os metrôs, as ruas, os postes...Ah, os aeroportos, indescritíveis, eu não acreditava naquilo, aviões...
Era fã dos adultos, sim, eu os admirava, seus trabalhos, os observar causava boas sensações. Suas conversas eram incríveis. Me sentia seguro.
Quase tudo era novidade, quase tudo era desconhecido, era uma aventura, uma longa aventura.
Aqueles sentimentos da época de criança, queria poder sentir denovo.